Thursday, August 22, 2013

Assexualidade: "Mas você só não achou a pessoa certa ainda..."


"Eu pedi sua opinião, meu caro?"
Acho que esse é um ótimo começo pra essa situação. Vou contar um pouquinho da minha história e explicar um pouquinho sobre esse negócio de assexualidade.
Não, eu não sou uma planta. Não, eu não sei fazer mitose pra criar outro ser igual a mim. But also, eu não tenho vontade de procriar e eu nem pretendo.

Deixando claro que você querer ou não procriar não tem nada a ver com a sua sexualidade, PORÉM, você não ter vontade alguma de copular é um assunto um pouquinho mais complicado.

Não sou nenhuma sexóloga, nem nada disso. Assim como muitas pessoas, eu até algum tempo atrás nem sabia me classificar nesse mundo.

Desde criança o meu comportamento era diferente, porém, nada que fosse notável sem um olhar mais apropriado. Não é como se eu preferisse brinquedos ou roupas "de menino", apesar de que eu nunca fui de classificar que uma coisa é de menino e outra é de menina e blablabla (se eu comprar, é meu e pronto). Mas eu nunca fui dessas meninas que brincam com essas bonecas que imitam bebês, nunca gostei. Também nunca me identifiquei com a tarefa de ser mãe, ou a sina de se casar. Quando eu brincava de Barbie com as minhas amiguinhas eu era geralmente uma dessas empresárias bem sucedidas, com uma casa cheia de roupas, sapatos, bolsas e gatos. Não tinha muito espaço pra um romance, e nem muito menos pra um filho. Mas quem vai parar pra ver a história por trás da brincadeira de uma garota de dez anos?

As coisas ficaram um pouco mais estreitas no início da adolescência. Eu jamais senti essa necessidade de "beijar na boca". A primeira vez que fiquei com um garoto foi por que minha prima me pressionou tanto que eu não consegui dizer não. Foi algo do tipo "se eu não fizer, ela com certeza vai ficar chateada por me deixar sozinha enquanto ela fica com o amigo dele e tal". E eu acabei ficando. Ninguém costuma acreditar quando eu digo, mas sempre que eu acabava ficando com alguém eu ficava pensando "eu poderia estar fazendo tantas coisas agora... escrevendo, desenhando, aprendendo alguma coisa que eu ainda não sei...", e nunca senti exatamente nada de diferente enquanto beijava qualquer garoto. Como qualquer adolescente que está começando a se descobrir, fiquei pensando se talvez - apenas talvez - eu não pudesse ainda estar "no armário".

E eis que me surgiu a chance de ficar com uma menina. Eu nunca tive preconceitos como homossexualidade, apesar de ter crescido num lar cristão (desses evangélicos e tal mesmo, e no passado era dos fervorosos, fui colocar uma calça comprida pela primeira vez aos meus oito anos, rsrs), e nem mesmo achava "fora da normalidade, do padrão" (e nem acho hoje), então eu fui lá e fiquei.

E pra mim foi exatamente como ficar com um garoto, só que com peitinhos.

Pra quem acha que eu nunca tive um relacionamento afetivo e tal, meu primeiro namoro durou um ano e seis meses. Ele começou como mais uma experiência, o rapaz se tornou meu melhor amigo, mas quando terminou, terminou de verdade, e eu perdi esse grande amigo por não ser capaz de entender minha sexualidade e/ou lidar com ela.

Ele era alguém importante pra mim, mas eu não consegui corresponder às expectativas físicas e emocionais dele. E hoje eu sei que não conseguiria corresponder às expectativas de grande parte da população mundial. 

Achei que o fato de eu lidar da mesma forma com ambos os sexos poderia ser indício de bissexualidade. Afinal, como muita gente, eu era desinformada sobre a existência dessa outra sexualidade à qual eu tenho noção de que me enquadro atualmente.

Depois de algum tempo gasto em tentativas frustradas de sentir algum interesse sexual por algo, eu decidi que era mais proveitoso investir esse tempo em outras atividades da minha vida.

Fui rotulada como lésbica pela minha família, uma vez que eu só saía com as minhas amigas e não namorava há um tempo considerável. Ouvi muita gente falar coisas sobre mim que não eram verdades. Parti corações de pessoas que realmente gostavam de mim, mas não eram capazes de entender meu desinteresse...

Então um dia enquanto eu estava na internet eu achei acidentalmente essa pesquisa que dizia que atualmente aproximadamente 1% da população mundial se dizia "assexual" ou "sem interesse sexual ou afetivo". E era exatamente como eu me sentia! Eu tinha encontrado meu lugar. E é bom a gente saber que não é a única pessoa no mundo que se sente estranha diante desse tipo de situação.

Quando eu finalmente pude sair do meu armário particular (ou eu deveria dizer baú, por que né...), eu me senti muito mais completa. Meus pais já sabiam que eu tinha ficado com pessoas de ambos os sexos, eu não tenho segredos com eles, e fiquei consideravelmente feliz em poder dizer "Pai, mãe, eu sou assexual.".

Embora eu ache que eles ainda acreditam que isso é por que eu não achei "a pessoa certa" (como muitas pessoas dizem quando me perguntam dos namorados e eu digo com toda clareza que não tenho interesse em relacionamentos sexuais ou afetivos), eles aceitam bem minha situação, até entram na minha brincadeira quando digo que vou me casar por dinheiro, já que não tenho interesse por sexo e amor já me basta o dos gatinhos e cachorrinhos que eu pretendo ter.

É terrivelmente chato pra pessoas como eu essa cultura do amor verdadeiro. Sem querer ser estraga prazeres, mas o mundo tem mais de 7 bilhões de pessoas. É impossível existir apenas uma que vai ser capaz de te fazer feliz. Se eu não faço questão de encontrar esse amor verdadeiro, tal qual esse aproximado 1% da população também não, então apenas nos deixem em paz com nossa felicidade autossuficiente.

As pessoas homossexuais sofrem um preconceito mais agressivo que o nosso. Nós não sofremos tanta violência apenas por sermos desinteressados sexualmente. Na verdade eu acredito que muitos assexuais nunca chegam a se classificar como pertencendo a esse tipo de sexualidade por causa dessa "cultura do casamento". Acham que precisam se casar, casam e vivem fazendo sexo mesmo sem interesse real nisso. Laços de amor também são formados por amigos, e a diferença entre o amor romântico e o amor fraterno pra um assexual é a presença ou ausência de demonstrações por meio da sexualidade (beijar, abraçar de forma diferenciada, fazer sexo, etc). 

Quero deixar claro que existem diferentes níveis de assexualidade. Existem assexuais sem interesse por sexo, mas com interesse por relações afetivas, outros que tem interesse no prazer carnal oferecido pelo sexo, mas sem interesse algum por relações afetivas com nenhum tipo de pessoa, e o que eu acredito ser o mais legítimo, até por que o termo "assexual" vai derivar dessa situação de desinteresse geral, que não sente necessidade em relação sexual e nem em relação afetiva. E eu não acredito no assexual que tem interesse por sexo e relação afetiva. Se você quer essas duas coisas, mas não liga pro sexo da pessoa com quem vai ter isso você é bissexual ou pansexual, meu lindo. Beijos.

Eu me encaixo no terceiro tipo do qual falei. Pra mim, relação afetiva basta com meus amigos, parentes e bichinhos de estimação.

MAS VAMOS DEIXAR AS COISAS CLARAS AQUI. Se você leu e se identificou, não quer dizer que você precise desacreditar do amor. Amor acontece. Pessoas amam. Não é por que você não liga pro amor que ele tenha deixado de existir no mundo. Ser assexual não é 100% legal e daora. Pessoas se machucam, você se machuca. Às vezes é necessário dizer não pra pessoas que gostamos muito, apenas por que o nosso "gostar" e o delas não é igual. Algumas pessoas não entendem isso e viram as costas pra você. Isso acontece muito mais do que deveria. Infelizmente.

O mundo está começando a voltar a caminhar na direção da aceitação da homossexualidade agora, ainda vai levar muito tempo pra que as pessoas aceitem a assexualidade como uma sexualidade também, por que muita gente acredita que isso não existe.

Espero que essa postagem tenha sido pelo menos um pouco explicativa a respeito de o que é assexualidade. :)
Não somos nenhum tipo de evolução e não temos superpoderes já deixo claro, apesar de acreditar que isso possa ter sim a ver com alguma coisa na natureza querendo que os humanos diminuam o ritmo de produção de filhotes, rsrs.
Será?